A minha mãe adquiriu uma dessas coisas espectaculares que faz tudo sozinha, menos ir às compras e limpar a casa. Na altura, ela andava doidinha de todo. Mas sempre pensei que estivesse a presenciar um momento daqueles como quando me ofereceram o carro da Barbie no Natal. Na primeira semana, muito giro, vrrum vrrum, sim senhor, não o largava. Na segunda, já só peguei nele duas vezes. E na terceira, já nem sabia onde o tinha largado porque já me tinha fartado dele. Mas não. E se há prova disso, é que ela habita a nossa bancada da cozinha há mais de um ano e o entusiasmo e discurso elogioso não esmoreceu.
Ora, eu acho que a minha mãe me devia incentivar a aprender a cozinhar de forma tradicional. E apesar de os meus dotes culinários tenderem para zero, acho que a Bimby é uma substituta muito fraca do prazer de cozinhar (quando consigo cozinhar uma coisa sem a queimar, a sério, fico mesmo satisfeita). Nem da colher de pau a mexer a comida. Nem do cheirinho a refogado que sai do tacho e enche a cozinha. Nem da aventura que é uma pessoa (uma pessoa como eu) tentar evitar uma queimadura, esgueirando-se estoicamente do azeite a ferver que salta por todos os lados, quando tento fritar alguma coisa, usando a tampa da frigideira como escudo protector da cara. Enfim, todos os dias uma nova aventura!
Mas a mãe discorda. E não há legumes que ela me veja a picar sem me dizer Então mas estás a fazer isso à mão? Se usásses a Bimby, eram só x segundos e ficava muito melhor. (Ya mãe, obrigado pelas doces palavras de encorajamento!). E eu tento fazê-la perceber que o tempo que ia demorar a consultar o livro, encontrar a velocidade e o tempo pra Bimby fazer determinada coisa a determinado alimento, ligá-la, pô-la a trabalhar da forma certa e, no fim, lavar o jarro (é jarro o nome que se dá ao recipiente?) é maior e mais stressante do que fazê-lo à mão. Portanto, obrigadadinho Bimby, han? Por inverteres os papéis. Por me fazeres parecer uma mãe que não quero cá nada dessas modernices! e por fazeres a minha mãe parecer a minha filha, a tentar convencer-me, A sério, é super fácil, eu ensino-te! Quando te habituares, não queres outra coisa.
Texto que estava há muito tempo no forno, à espera de sair