É intrigante pensar nos se's da vida. Pensar que a nossa vida se delineou assim e não de outra forma por acasos e coincidências, por experiências que tivémos ou não e que nos tornaram o que somos. Podíamos perfeitamente ser outra coisa qualquer. Tipo um calhau. Ou um mendigo. Ou um nazi. Ou um mitra de calças de fato-de-treino pra dentro das meias brancas de turco da Puma. Ou o melhor jogador do mundo. Ou sermos da Igreja Universal do Reino de Deus. Ou já ter um rancho de filhos. Ou sermos podres de ricos. Ou sermos esquizofrénicos. Ou batermos na nossa mãe como o D.Afonso Henriques. Ou sermos a esposa do David Luiz.
Por estar no sítio certo à hora certa, no sítio errado à hora errada, no sítio certo à hora errada. Por decisões tomadas de cabeça quente, por coisas ditas com o coração na boca. Por termos feito uma escolha entre isto ou aquilo a que, na altura, nem demos muita importância. Por nos termos atrasado cinco minutos ou termos perdido aquele comboio. Por termos voltado atrás, daquela vez que saímos de casa e nos esquecemos do telemóvel. Por termos bons ou maus genes. Por termos nascido num país e numa cultura em vez de noutra. Por o tsunami ter varrido o Japão e não Portugal. Por uma troca de olhares. Por aquela primeira impressão que tivémos daquela pessoa. Por, certo dia, termos feito o trajecto trabalho-casa por um caminho diferente do habitual. E por todas estas coisas frágeis, incontroláveis que nos aconteceram a nós, aos nossos pais, aos nossos avós, aos nossos amigos, aos nossos namorados, às pessoas que nos rodeiam.
Não é que valha a pena pensar nisto. Porque além de ser cansativo, há coisas muito mais giras pra fazer, como por exemplo emborcar imperiais e comer tramoços. E passado o momento filosófico