26 de abril de 2010

Apesar de compreender mal português, o pobrezinho conhecia a palavra "enfarte".

A médica com quem estive, na sexta-feira, na Urgência Central, disse a um doente ucraniano, de 39 anos, O senhor provavelmente está a ter um enfarte, por isso vai ficar cá umas 4/6 horas em vigilância, ok?, exactamente com o mesmo tom com que se diz Olhe, o senhor está com uma constipaçãozinha, vai só ali tomar um cházinho de mel e limão qu'isso já passa, ok?, tum tum, duas pancadinhas nas costas, até já e volte sempre.

Obrigado maus exemplos, por me mostrarem como não quero ser.

24 comentários:

Anónimo disse...

Pois... ninguém pode exigir que um médico carregue nos ombros todos os problemas dos doentes. Compreendo que são pessoas, muitas vezes cansadas de muitas horas a aturar chatos só com uma constipação e que parece que estão a morrer. Mas quando temos uma doença grave, quando sentimos que o fim pode estar a horas, ou minutos, só quem já "lá" esteve é que percebe a importância duma atençãozinha, dum atendimento mais... só um bocadinho mais humano.
E é uma merda, porque nunca consigo falar disto sem me emocionar. Pelo lado bom e pelo lado mau, porque já tive dos dois.
Era bom que ser médico fosse como ser músico: só para quem tem vocação.

Beijinho.

C. disse...

é bem verdade cat. se babamos com os bons exemplos de profissão, quase vomitamos com os outros...

Odalisca disse...

Olha que realmente -.- Credo!
beijinho e não sejas assim Cat ;)

Lia disse...

caraças.... parece que em vez do coração aquilo já é só uma pedra!

♥ Guida disse...

Bolas, é nas mãos de monstros destes que não quero cair. Não precisaria ela também de um enfartezinho? Coisinha pequena. A sério! É o que dá vontade desejar

Beijinho

Dexter disse...

É por estas e por outras que me assusta ir a uma consulta, já que o meu nome do meio é Hipocondríaco. E sou todo sedento de atenção médica, quando lá vou, o que por acaso até é raro.

No entanto, e infelizmente, não é só na tua profissão que isso acontece. Na minha área também já vi muitos advogados a reconfortarem condenados, do género: "Não se preocupe, são SÓ 2 anos...".

Ana das Pontas disse...

É uma coisa que acho horrível, a frieza com que alguns médicos parecem encarar a profissão.

Mas tu és uma querida e vais ser uma médica fofíssima!! :D

Anónimo disse...

Já estão tão habituados que se torna banal. É só mais um enfarte dos tantos que já viram... Mas um pouco de sensibilidade não fica mal a ninguém...
Beijinhos

Madame Pirulitos disse...

Ainda a semana que passou tive esta conversa com a minha mãe. Começou porque eu entendia que os médicos, principalmente de determinadas especialidades deviam dar o numero de telemóvel aos clientes 8estou a falar dos pediatras em particular). daí tivemos uma reflexão filosófica sobre a necessidade de afastamento que estes profissionais têm muitas vezes que ter. Muitas vezes esse afastamento acaba por ser confundido, pelos outros e até por eles próprios, com frieza e indiferença.

Não sei se foi a minha mãe a puxar pelo seu homem mas a verdade é que lá em casa ligam ao meu pai ao domingo, só para perguntar se vai dar consultas na segunda, por exemplo.

Mas sim, há pessoas que deveriam estar fechadas num laboratório a investigar e não a relacionarem-se com outras pessoas.

beijos

Moretti disse...

Sinto em discordar de posts tão realistas mas todos estão a ver apenas uma lado da moeda! A médica em questão fez tudo correctamente! Fez o diagnostico e oriento a terapêutica correcta. Para quem não é da área, a notícia de enfarte, cancro é algo aterrador, mas para o médico, é como dizer que o pneu furou, algo chato mas normal, e depois de anos a tomar na cabeça, seja nos anos de faculdade e depois a clinicar, as coisas tornam-se tão naturais, que dar esta notícia desta forma não é nenhum pecado. Pode parecer brutal ao olhos de alguns, mas aos meus é a realidade.
Nos meus 8 anos de formado, tenho tido contacto com os alunos desde o início até a formatura e vejo como TODOS entram na faculdade com estes sentimentos de altruísmo e empatia, que se dilui paulatinamente no decorrer do curso e depois nos anos de trabalho, ainda mais nas urgências, onde se vê o paciente somente por alguns momentos. Como médico oncólogo, vivo a dar estas notícias estarrecedoras às pessoas, é algo bem difícil e ninguém nunca se acostumará a isso... mas cada cabeça ergue um muro de auto-protecção em torno de si para se preservar destes momentos, senão não há psiquê que aguente.
Desculpem o testamento, mas tinha de vir em pró da minha colega, antes dizer que a pessoa está a ter algo ruim do que amenizar muito e o paciente achar que nada tem e negligenciar o tratamento. Há pessoas que só caem em si na base do susto!
Ciao!

Elle disse...

Sim, é verdade que essa médica foi um tanto ou quanto destravada, como gosto de chamar. É assim, tudo bem que eu sei que os médicos não têm de carregar com os problemas dos pacientes como se fossem os problemas de eles próprios ou de um ente mas, vamos ser sinceras, onde anda a paciência e sensibilidade de alguns?

Sim, Catzinha, por favor, quanto fores médica, não sejas assim : )

Beijinho,

Elle

mary disse...

ha medicos, assim como enfermeiras, que eu as vezes nao acredito como é que conseguiram essa profissao. as vezes, nao me parece simplesmente possivel... é uma pena que a unica coisa que se precise nesta vida para ser medica/o é ter um cerebro gigante e portanto boas notas. porque ha tanta gente com muito mais vocação que certos medicos que ai andam... e que nem sequer têm a minima oportunidade quando de certeza se sairiam bem melhor que eles. bom, é por estas e por outras que detesto hospitais e medicos e sempre que precisar de alguma coisa, recorro a ti, porque sei que nao vais ser desses medicos horriveis ^^ beijinho querida cat *

Abby Richter disse...

vais ser a minha médica! a minha e de toda a minha família. Esses maus exemplos servem para te aperfeiçoares, veres a realidade e ambicionares seres um protótipo que todos os médicos deveriam ser: afáveis, atenciosos, queridos.
Mas enfim... é por estas que o país não anda...
Beijinho Cat :) *

Moretti disse...

WOW! Cat!!! mas és cheia de fãs!!! Não queres por acaso concorrer as presidenciais ano que vem? Talvez dês um jeito no país!! fica aí a dica :) se pudesse, juro que em ti votaria. baci!

Olhos Dourados disse...

Eles já devem estar tão habituados a coisas dessas que nem dão conta.

Anónimo disse...

Nem sei de quem devo ter pena: se do sr. enfartado ou se da médica zoombie (é que para dar uma notícia destas, assim tão calamamente, ela deve ter os nervos entorpecidos e a consciência morta!)

Rosa Cueca disse...

Eu confesso que não gosto muito de médicos. Mas vá, há um ou dois que escapam :D

Cat disse...

Fresco_e_Fofo, infelizmente, isso é impossível porque não existem escalas de avaliação de vocação. E como também comentei mais abaixo, apesar de a forma como se entra pra Medicina ser imperfeita e não olhar a vocações, continua a ser a mais "uniforme" e de certo modo, justa. Além de que ninguém sabe se tem vocação até estar com doentes, todos os dias. O que só acontece no 4º ano de curso, portanto estás a ver.. Eu compreendo bem o que dizes e espero não perder esta sensibilidade, com o tempo e com a experiência, que é o que me dizem que quase inevitavelmente acontece. Beijinho

Hermione, felizmente há muitos bons :)

Odalisca, não serei :)

Lia, pois :X

Guida, também há enfermeiras assim, querida :P

Dexter, eu desde que estou em Medicina, tornei Hipocondríaca o meu nome do meio :P Pois, acredito. Os advogados, no geral, também não têm boa fama no que toca a sensibilidade :P

Zaahirah, oh, obrigado! :) :$

almighty yellowphante, eu também já estou habituada a enfartes e fiquei chocada! :P

Madame Pirulitos, eu também acho que há essa necessidade de afastamento. Eu, por exemplo, ainda não tenho e às vezes, gostava. No outro dia, soube que uma velhota linda, amorosa, daquelas que só apetece levar pra casa, com quem eu tinha estado lá na enfermaria, tinha um cancro em fase terminal. Fiquei tão triste. Foi coisa pra me afectar durante vários dias. E isso não é bom nem desejável. Mas é uma coisa completamente diferente da insensibilidade e indiferença com que se dá uma má noticia. Não sabia que o teu é pai médico. Que especialidade? :) Beijo, querida *

Kikas, mas sabes que, no privado, quase todos os médicos têm condições para ser super amáveis e fazerem os doentes sentirem-se bem. O público (pelo menos, o MEU hospital, que é o maior do país) é uma coisa que não te passa. Às vezes, por muita boa-vontade que se tenha, é impossível porque trabalha-se em condições a que ninguém devia estar sujeito (nem sujeitar os doentes, claro!).

Moretti, eu compreendo o que dizes e desde que estou do lado de cá, compreendo muitas coisas que anteriormente não compreendia aos médicos. Certo, até para mim que ainda sou estudante, um enfarte ou um AVC já não são coisas nada de especial, porque há disso todos os dias aos montes (não é aquele fascinio de quando vi o primeiro!). Mas para os doentes, NUNCA há-de ser. Não se pode dizer a um doente de 39 anos, que mal percebe a língua e sem factores de risco cardiovasculares, que ele está a ter um enfarte como quem diz que teve um furo num pneu. Eu, pelo menos, acho que não, acho que é falta de sensibilidade. Se calhar tens razão e isto até me vai passar com o tempo e com o hábito (espero que não!) mas agora, estou nesta fase. Fãs? Onde, onde? :P [ O meu futuro é na política, sim! ]. Beijo *

Elle, não vou ser, podes depositar as tuas esperanças em mim :P

mary, pois, infelizmente (e já tive esta discussão com dezenas de pessoas), a forma de admissão à faculdade, apesar de altamente injusta e imperfeita, é a melhor que há, mesmo assim. Acredita. Podes recorrer sempre que precisares, querida :) *

Abby Ritcher, com todo o gosto :)

Olhos Dourados, claro.

Nox Lilin, ou então está tão habituada que se desensibilizou..

Rosa Cueca, eu não me vou pôr aqui a defender a honra da classe porque até eu não gosto da maioria dos médicos :P

Anónimo disse...

Já agora gostava de saber pormenores dessa minha "queda por gajos".
É que eu ainda não dei por nada... lol
Bjos.

C*inderela disse...

Que sensibilidade ... :P

Kikas disse...

no hospital mais perto de mim, que quase só já tem o sap, há muitos que não fazem porque não querem, acredita. e a médica a quem me refiro, mesmo como pessoa, é espectacular!

Cat disse...

*C*inderela, yup!

Kikas, acredito, querida :)

Madame Pirulitos disse...

É daquela que é olhada como de segunda: clínica geral.

Beijinhos

Cat disse...

Madame Pirulitos, já não é bem assim agora. Ou gosto de acreditar que não. Ao longo do curso, sensibilizam-nos bastante para MGF. Conheço muitas pessoas que querem (eu própria, não ponho de parte) o que era uma coisa bastante improvável dantes ;)