24 de março de 2009

Já lhe chamaram "tens o fogo no cú!"


Eu ando rápido. Eu ando mesmo rápido. Quando ando sozinha na rua não consigo andar de outra maneira. Não consigo andar como quem passeia. Não consigo andar descontraída, a olhar à volta, para as pessoas (quem diz pessoas, diz casas, criancinha, árvores, bancos, pombos, semáforos ou qualquer outra coisa que se espere encontrar na paisagem de uma avenida movimentada de Lisboa). Vá para onde for, ando sempre assim. A primeira vez que percebi isso ia que nem flecha na calçada portuguesa quando um ilustre desconhecido me disse " Eh lá, que pressa!". Nesse momento, caí em mim e tentei ir devagar (nos cinquenta metros que faltavam até casa) para não provocar deslocações laterais de ar nas pessoas que me cruzassem em sentido contrário. Geralmente, e verdade seja dita!, é por andar sempre atrasada. Para mim todos os minutos na cama contam. Cinco minutos a mais na cama são cinco minutos a mais na cama. Até trinta segundos! Mas não pode ser essa a única explicação, tem de ser de mim, do meu metabolismo, das minhas junções neuromusculares, qualquer coisa do género, qualquer explicação bioquímica ou anatómica, lógica... Até porque já fiz a experiência do "vou sair de casa a horas de chegar pontualmente a tal sítio". E como não conheço o luxo de andar devagar, calma e relaxadamente, acabei por ir com a mesma rapidez e chegar antes da hora. Por isso continuei na mesma: sair tarde e ir depressa, já que tanto o resultado final como o processo de o atingir é sempre o mesmo. O caminho que habitualmente percorro é: calçada ladeada, do lado esquerdo, por carros - em primeira e segunda fila - e, do lado direito, por prédios de três andares, com lojas, cafés e restaurantes nos rés-de-chão. Não é um caminho muito largo. Cabem três pessoas ao lado umas das outras, quatro apertadas. E portanto, se há coisa que me faz ficar de cabelos em pé é ser travada, no dito caminho, por um grupo de velhinhos (sim, GRUPO!) a andar à velocidade que a idade permite. Pouca. Muita pouca. Não é nada pessoal, eu adoro velhotes, juro. Ou por um gang de carrinhos de bebé, ao estilo dogwalk mas com bebés em vez de cães e carrinhos em vez de trelas. Ou uma pessoa com uma criancinha de cada lado, pela mão. Mas não daquelas que correm em todas as direcções. Quem me dera! Das outras, as que ainda estão sempre a ir com o nariz e com a fralda ao chão (vão alternando). Ou um grupo de teenagers altamente indesejável, a rir alto e a falar mais alto ainda mas andar-rápido-que é-bom, nada! Quando finalmente há uma "aberta" para uma possível ultrapassagem, surge do lado esquerdo um talhante com aquelas peças de carne vermelhas, gigantes, cruas nos braços, a tentar descarregá-la do camião estacionado para o talho. Portanto também ele à espera de se atravessar no meu caminho. (Juro! Há cinco talhos nos sete minutos que separam a minha casa do metro). E se há coisa que eu não arrisco é contacto com carne, ali, assim. Começo logo a pensar em salmonelas e outras coisas tais. Quando todas as minhas esperanças se concentram no lado direito, aparece sempre uma banca de fruta ou de flores ou uma mini-esplanada. Às vezes arrisco uma ultrapassagem pela estrada mesmo, ao lado dos carros.

Aiii, Lisboa cansa-me a mente!



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