13 de fevereiro de 2009

"A minha professora de Medicina I"

Era uma vez uma cadeira de 4º ano chamada "Medicina I" e uma professora de Medicina I chamada...vá, chamemos-lhe "professora de Medicina I", que isto das represálias, nunca se sabe. A minha professora de Medicina I é uma médica competente, prestigiada, com participação em congressos de Medicina em Portugal e fora do país.
Mas a minha professora de Medicina I é uma senhora de meia idade que não prima pela simpatia e com algumas características que faz com que mereça que se escreva sobre ela.

A minha professora de Medicina I não é muito amiga de dizer "bom dia", "boa tarde" e nem sequer "olá" ou "adeus" ou "obrigado".
A minha professora de Medicina I fala de uma maneira um bocadinho... rude.
A minha professora de Medicina I gosta muito de, especialmente pela manhã, gritar com toda a gente. A minha professora de Medicina I tem a peculiar característica de, cada vez que regressa de uma semana de férias, voltar com ainda pior feitio do que antes de ir.
A minha professora de Medicina I adora o barulho que os seus saltos fazem no corredor da enfermaria, a anunciar, que nem foguetes, a sua eminente aproximação (ao menos dá-nos tempo de nos escondermos!).
A minha professora de Medicina I no primeiro dia, não perguntou os nomes aos seus alunos e baptizou-os (-nos) simpaticamente de 1, 2 e 3. Sim, simpaticamente! Consta que no ano anterior foi um baptismo pior: O Baixo, A Rapariga, etc...
Nunca ninguém viu a minha professora de Medicina I com um doente (isso é trabalho para os seus internos e alunos!).
A minha professora de Medicina I fuma na enfermaria.
A minha professora de Medicina I senta-se de pernas abertas, diz "a merda da tensão arterial", trata os doentes por "ainda por cima são burros", prefere chamar "velhos" em vez de "idosos", usa com bastante frequência a elegante e científica palavra "coiso
" nas suas frases.
A minha professora de Medicina I consegue logo acabar em dois segundos com qualquer tentativa de se falar afavelmente com ela (outras vezes consegue deitar por terra a própria de tentativa de lhe falar, só).
A minha professora de Medicina I na correcção de uma história clínica minha escreveu " qui é da tiroide?" (isso também eu gostava de saber, amiguinha!).
A minha professora de Medicina I sabe que estamos 1h30 até conseguir arranjar coragem para nos dirigir a ela com um humilde "Bom dia, Dra. Já chegámos" e gosta.
A minha professora anda sempre de saia pelo joelho e collants transparentes, exibindo com orgulho! os seus longos e pretos pêlos das pernas.
A minhas professora de Medicina I acha que nós somos uns ignorantes e, infelizmente, esta é uma constatação com a qual, por vezes, tenho de concordar.
Não se conheciam sobreviventes, de anos anteriores, à minha professora de Medicina I.

Todas as coisas que descrevi são factos, constatados e descritos por qualquer pessoa que tenha a oportunidade de conhecer a minha professora de Medicina I.
Depois passamos para o patamar das hipóteses: coisas que eu não sei sobre a minha professora de Medicina I mas das quais desconfio com um elevado grau de suspeição (vá, digamos 9 em 10, a escala de suspeição!).

A minha professora de Medicina I faz chichi de pé.
A minha professora de Medicina I tinha o sonho de ser taberneira, num negócio próprio, mas o destino trocou-lhe as voltas e levou-a à Medicina.
A minha professora de Medicina I não gosta de ler, escrever, pintar, ir ao cinema, ao teatro, a museus, ver televisão ou passear. A minha professora de Medicina I não comemora nem nunca comemorou nem nunca comemorará o Natal, a passagem de ano, o seu aniversário, o aniversário de qualquer pessoa que seja, a Páscoa, o Carnaval, o inicío dos saldos, o Verão, a Primavera, o Dia dos Namorados, o Dia da Mãe, o Dia do Pai, o Dia da Criança, o 25 de Abril ou qualquer outro feriado, os centenários da morte de Camões, o Euro 2004, os 200 anos sobre A Teoria da Evolução das Espécies de Darwin, o dia em que o Homem chegou à Lua, a entrada de Portugal para a UE, a descida da Euribor, a libertação dos reféns do BES de Campolide, o seu primeiro ordernado ou qualquer outro acontecimento que implique a demonstração de qualquer sentimento de alegria, euforia, partilha ou whatever.
Os heróis de infância preferidos da minha professora de Medicina I eram o Rambo e Jack, o Estripador.
A minha professora de Medicina I, obviamente!, não é casada nem tem nem nunca teve nenhum namorado e continua à espera (mas não ansiosa nem sequer desejosa!) do seu primeiro beijo.
Até à adolescência, a minha professora de Medicina I, nos seus tempos livres, gostava de arrancar patinhas de formigas, asinhas de borboletas, bigodes de gatos e dissecá-los autodidacticamente.
A minha professora de Medicina I não pára nos semáforos, nos stops nem nas passadeiras e já matou 3 peões.
Os pêlos das pernas da minha professora de Medicina I são representativos da restante penugem que cobre o seu corpo.
Nas noites de Lua Cheia, acontecem coisas muito estranhas à minha professora de Medicina I.

A minha professora de Medicina I tem uma irmã gémea igual a ela, que também é médica e que também foi minha professora ( OOOOH NÃÃÃÃO! ). Eu até acho que a minha professora de Medicina I tem um quê de Doctor House...mas claro, sem coxear, sem ser homem, sem ter uns olhos incríveis e sem ser tão irresistivelmente sexy (nem muito, nem pouco, nada!).

A melhor coisa que a minha professora de Medicina I já fez foi dar-me boa nota na oral de Medicina I, permitir que eu me livrasse dela e que podesse escrever este texto.

:)

1 comentário:

Anónimo disse...

as famosas gémeas xD
espero nao as apanhar este semestre xD