Gosto de séries de médicos, apesar de não acompanhar nenhuma religiosamente. E fico toda excitada por já compreender praticamente toda a parte médica e técnica. No House, às vezes, até consigo pôr as mesmas hipóteses diagnósticas que a equipa dele - que, claro, apesar de serem as óbvias nunca são as correctas porque só o boss é que domina aquilo.
Mas o dia-a-dia de um hospital é tão distante - far far far far far far far away - daquele que é retratado nas séries - como deve acontecer com as séries de advogados, as de polícias, as de enfermeiros, as de juízes. Todas.
1. Ora o Estado não anda a pagar para os médicos andarem, em tempo útil, a pinar uns com os outros em tudo o que é maca, sofá e recanto, como na Grey's Anatomy, onde já todos andaram com todos (quando se acabaram as combinações, introduziram as lésbicas).
2. Os médicos têm especialidades e, além deles, trabalham no hospital, enfermeiros, auxiliares de acção médica, técnicos de saúde, pessoal admnistrativo, assistentes sociais psicólogos e etc. Portanto é completamente irreal ver um médico a fazer diagnósticos, dar medicamentes, recolher sangue para análises, fazer uma TAC, escrever no quadro de enfermagem, telefonar para a família, ir a correr buscar um órgão para transplante, operar. O trabalho é distribuído.
3. Os médicos não são quase todos giros, como nas séries. A coisa é até bastante escassa. Cá, os médicos são uma classe envelhecida. O único, das dezenas, talvez centenas, que já conheci que era assim mesmo um pedaço de mau caminho, chamava-se Emanuel. Portanto, não conta. Não consigo lembrar-me dele sem começar a trautear música pimba do homónimo.
4. As Urgências não são assim um sítio tããão interessante como isso, cheio de verdadeiras emergências, com maqueiros a correr de um lado para o outro, com pessoas que padecem de doenças eminentemente fatais e se estão a esvair em sangue. Aparecem muitas coisas banais, sem graça nenhuma. Em Portugal é nisso um país particular(mente mau). As urgências de um hospital são um sítio onde as pessoas, às vezes, acordam e têm vontade de ir. Ora hoje hei-de ir passear ao café? Ao Zoo? À FNAC? Olha, não, vou passear às Urgências de Sta. Maria. E depois estão cinco horas à espera - a apanhar um banho aéreo de bactérias que é uma mimo - para mostrar um dedo que lhes dói ou para dizer que acordaram com dorzinha de cabeça ligeira que passou com o benuron. Ou então só para dizer olá.
5. Quando os médicos estão de banco há 24 horas não têm, de todo, o bom aspecto, a maquilhagem e a frescura que eles têm nas séries depois de um banco de 24 horas.
Estudantes de Medicina e internos mal tratados? Check! Nisto podem confiar.